Foto: Tumblr
Esses dias lá na facul, a minha professora de "alfabetização e letramento" (uma matéria total pedagogia, mas que por incrível que pareça, estou gostando), leu um texto que eu gostei particularmente muito. Na verdade ela sempre lê um texto - seja crônica, conto, ou coluna curta - antes de iniciar a aula, e eu realmente acho isso muito legal.
Enfim, o livro texto lido foi Felicidade Clandestina, da famosíssima Clarice Lispector, de seu livro do mesmo título. Eu não conhecia. Apesar de conhecer a Clarice (quem nunca viu algumas frases perdidas dela no facebook?), nunca li nada propriamente dito. Uma vez uma garota me emprestou Hora da Estrela e eu prometi a mim mesma que leria. O que, infelizmente, não aconteceu. Conclusão: devolvi o livro com aperto no coração (sim, sou dessas).
Nesse pequeno texto que a Clarice mesmo não classificou em algum gênero específico, nós vemos uma passagem importante de sua infância no Recife: uma garota de sua classe na escola era filha de um pai dono de livraria (coisa que, sejamos sinceros amantes de livros, todos gostaríamos de ser), tinha um talento invejável para a crueldade. Mostrou á Clarice a tentação de poder ler um livro - mais especificamente Reinações de Narizinho -, mas não dar o objeto propriamente dito.
Lembrei daquela metáfora de A Culpa é das Estrelas, em que o Gus tira um cigarro da boca, mas não o acende, afirmando ser mais poderoso que a coisa ente seus lábios, porque não dá á ela o poder de lhe matar, de lhe controlar (analogia minha, não precisam concordar).
A coisa é: quando Clarice finalmente tem o livro em sua posse, ela fica naquele dilema de "leio, não leio", que conseguimos facilmente nos identificar. Quando queremos muito um livro, e demoramos para conquistar o direito de lê-lo - ou de pelo menos termos em nossas mãos -, parece que quando finalmente vemos o objeto alí, na nossa frente, fica difícil de acreditar.
E é exatamente desse dilema que Clarice vive: ela cheira o livro, esconde, finge que não tem, faz várias coisas com ele antes de o ler propriamente.
Assim como quando eu compro um livro pela internet (porque eles demoram mais pra chegar, te fazendo ter aquela angústia da espera), e como vocês podem ver nos meus Unboxings, a alegria que me "baixa" quando finalmente posso pegá-los, abrir e ler o que está alí esperando para ser lido.
Sim, dou tal importância aos livros quanto o ser humano dá importância ao alimento, quanto um cantor dá importância á música ou quanto qualquer pessoa seja apaixonada por aquilo que ama ter por perto.
Me arrisco á dizer que concordo com Clarice no final do texto: não era mais uma situação de uma garota com seu livro, mas de uma mulher com seu amante. Todo esse jogo de "ter, não ter" pode ser associado á angustia da garotinha Clarice, ou da nossa angústia, não apenas pela literatura, mas pelos amores ao longo de nossa vida.
Você pode ler esse maravilhoso texto adquirindo o livro de Clarice pelo editora Rocco, ou nas melhores livrarias!
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